João da Cruz e Sousa
poète brésilien
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Dante Negro – Cisne Negro
João da Cruz e Sousa
Ocaso no mar
COUCHER DE SOLEIL EN MER
(Missal – 1893)
Traduction Jacky Lavauzelle
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Num fulgor douro velho o sol tranqüilamente desce para o ocaso, no limite extremo do mar, dáguas calmas, serenas, dum espesso verde pesado, glauco, num tom de bronze.
Dans une lueur de vieil or, le soleil descend tranquillement pour un coucher à la limite extrême de la mer, sur des eaux calmes, sereines, d’un épais et pesant vert, glauque, d’un ton de bronze.
No céu, de um desmaiado azul, ainda claro, há uma doce suavidade astral e religiosa.
Au ciel, d’un bleu pâle, toujours clair, une suave douceur astrale et religieuse.
Às derradeiras cintilações doiradas do nobre Astro do dia, os navios, com o maravilhoso aspecto das mastreações, na quietação das ondas, parecem estar em êxtase na tarde.
Aux dernières lueurs scintillantes du noble Astre du jour, les navires, avec l’aspect merveilleux du gréement, dans le calme des vagues, paraissent extatiques en cet après-midi.
Num esmalte de gravura, os mastros, com as vergas altas lembrando, na distância, esguios caracteres de música, pautam o fundo do horizonte límpido.
Dans un émail de gravure, les mâts, avec leurs hautes verges rappellent, au loin, de minces caractères de musique guidant le fond du clair horizon.
Os navios, assim armados, com a mastreação, as vergas dispostas por essa forma, estão como a fazer-se de vela, prontos a arrancar do porto.
Les navires, ainsi armés, avec le gréement, les verges ainsi disposées, sont comme des voiliers prêts enfin à sortir du port.
Um ritmo indefinível, como a errante etereal expressão das forças originais e virgens, inefavelmente desce, na tarde que finda, por entre a nitidez já indecisa dos mastros…
Un rythme indéfinissable, comme une vagabonde et éthérée expression des forces originelles et vierges, descend ineffablement, dans cet après-midi finissant, à travers des mâts déjà moins perceptibles …
Em pouco as sombras densas envolvem gradativamente o horizonte em torno, a vastidão das vagas.
Les ombres denses finissent d’envelopper progressivement l’horizon, l’immensité des vagues.
Começa, então, no alto e profundo firmamento silencioso, o brilho frio e fino, aristocrático das estrelas.
Puis, alors, du haut et profond firmament silencieux, la lueur froide et fine, la lueur aristocratique des étoiles.
Surgindo através de tufos escuros de folhagem, além, nos cimos montanhosos, uma lua amarela, de face chara de chim, verte um óleo luminoso e dormente em toda a amplidão dapaisagem.
S’élevant à travers des touffes de feuillage sombres, et sur les hauteurs montagneuses, une lune jaune répand une huile lumineuse et apaisée à travers l’immensité du paysage.
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