LITTÉRATURE PORTUGAISE POÉSIE PORTUGAISE LITERATURA PORTUGUESA POESIA PORTUGUESA
Florbela Espanca Flor Bela de Alma da Conceição Poétesse portugaise 8 décembre 1894 – 8 décembre 1930 Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de dezembro de 1930
ÉCOUTE … ESCUTA… Poème paru dans « O Livro D’Ele« 1915
Toni Frissell, Ruelle de l’Alfama Lisbonne, vers 1940
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À Beatriz Carvalho
Escuta, amor, escuta a voz que ao teu ouvido Écoute, mon amour, écoute cette voix Te canta uma canção na rua em que morei, Qui te chante une chanson dans la rue où je vivais,…
Hoje vou procurar o Fado secreto
Como Arthur procurando por seu Graal
Nas noites de Lisboa, me disseram
Disseram-me para me perder na Aflama
Lá, eu deveria mergulhar minha alma : Alfama fica fechado Em quatro paredes de água Quatro paredes de pranto
Lá eu vou sentir a Saudade
Lá eu vou entender o fado
No enorme terraço do Martim Moniz, cheio de sol
O metrô abriu como uma estranha baleia
Banhado em uma doce manhã de outono
Martim Moniz acordou com vozes desconhecidas
A luz suave iluminou a escuridão profunda do metrô
Os degraus do metrô guiaram fielmente meus passos
Sonolentos, comecei a minha jornada incerta
Uma curiosa alegria me enche de dúvida
Lá eu vou sentir a Saudade
Lá eu vou entender o fado
O rosto da Mouraria suspirou com uma incrível languidez
La Mouraria queria e esperou o que não poderia acontecer
Em um frenesi quase impassível, é possível?
Eu vaguei pelas ruas da Mouraria
Para ver se eu poderia encontrar algumas letras
Para ver se eu ouvi algumas músicas do dia anterior Almas vencidas e Noites perdidas Sombras bizarras Na Mouraria
Lá eu vou sentir a Saudade
Lá eu vou entender o fado
Eu ainda não encontrei nada, pobre infeliz,
Eu então subi, desapontado, pobre infeliz,
Pela estreita e sinuosa Rua dos Cavaleiros
Onde meu passo ficou triste, por quê?
Onde meu passo ficou pesado, por quê?
Eu ainda não encontrei o objeto da minha busca
Mas eu vi cartazes voluptuosos
Onde acendeu lindas fadistas inatingíveis
Lá eu vou sentir a Saudade
Lá eu vou entender o fado
Eu vi fadistas encantadores tão lindos
Que eles poderiam virar o vento mais louco
Levemente véu a luz divina
Traga Marco Polo de volta da distante Ásia
Pare Cristóvão Colombo em sua corrida
Eu vi fadistas encantadores tão lindos
Capaz de acordar os mortos enterrados
E chame como um farol uma alma perdida
Lá eu vou sentir a Saudade
Lá eu vou entender o fado
Uma harmonia estava passando
Entre as persianas semi-fechadas
Na bagunça de calçadas brancas:
Uma harmonia me abraçou carinhosamente
Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos
Uma harmonia me subjugou
Na bagunça de pedras brancas
Lá eu vou sentir a Saudade
Lá eu vou entender o fado
Lá em cima pensei ver a cidade
Eu acho que vi o mundo inteiro
Calçada de Santo André estava me esperando
Eu vi Graça me cobrindo com suas asas largas
E meu peito aberto, aberto enquanto
Eu ouvi meu coração bater alto
Eu escutei e escutei ainda mais
Mas meu coração ficou surdo ainda mais
Lá eu vou sentir a Saudade
Lá eu vou entender o fado
Se cantar está chorando de alegria
Se andar é acompanhar o ritmo do seu coração
Eu estava andando sobre uma dor infinita
E sobre uma esperança igualmente forte
Começando a penetrar nos primeiros
Pequenos becos de Alfama que serpenteavam
Uma oração veio ao meu coração
Eu cantei uma queixa feliz e triste
Aqui, a Saudade me tocou
Aqui, ouvi o coração do Fado
Contemporânea -nº1 – Maio de 1922 – Sumário Le sommaire du premier n° de Contemporânea de mai 1922 Capa do nº1 da Revista Orpheu, 1915 Couverture du premier n° de la Revue Orpheu de 1915
Álvaro de Campos***
Meu querido José Pacheco: Mon cher José Pacheko*,
Venho escrever-lhe para o felicitar pela sua «Contemporânea» para lhe dizer que não tenho escrito nada e para por alguns embargos ao artigo do Fernando Pessoa. Je vous écris ici pour vous féliciter de votre « Contemporânea », pour vous dire que je ne l’ai pas écrit et pour revenir sur l’article de Fernando Pessoa.
Quereria mandar-lhe também colaboração. Je voulais aussi vous envoyer une collaboration. Mas, como lhe disse, não escrevo. Mais, comme je vous l’ai dit, je n’écris pas…
ÁLVARO DE CAMPOS
Newcastle-on-Tyne, 17 Outubro 1922. Le 17 octobre 1922 – Newcaste-on-Tyne
NOTES * José Pacheko ou José Pacheco, directeur de publication, architecte, graphiste, peintre (1885 — 1934)
** Contemporânea est une revue portugaise publiée entre 1922 et 1926 (Lisbonne – Lisboa). Directeur : José Pacheko.
*** Álvaro de Campos, (heteronímia) hétéronyme de Fernando Pessoa, né à Tavira ou à Lisbonne, né le 13 ou le 15 de octobre 1890 et mort en 1935
****António Thomaz Botto (António Botto) poète moderniste. Il est né à Concavada au Portugal le 17 août 1897 et mort le 16 mars 1959 à Rio de Janeiro au Brésil. Canções sont des poèmes composés par Botto et parus en 1920.
«Olá, guardador de rebanhos, « Hé ! Gardeur de troupeaux, Aí à beira da estrada, Là, au bord de la route, Que te diz o vento que passa?» Que te dit le vent qui passe ? »…