Archives par mot-clé : Eça de Queirós

LE MANDARIN – Eça de Queiroz – Eça de Queirós -O Mandarim – 1ère Partie – 4ème section

    LITTERATURE PORTUGAISE
literatura português

Eça de Queirós
Eça de Queiroz
(1845-1900)
Tradução – Traduction
texto bilingue

Eça de Queirós 1882 O Mandarim Le Mandarin

O Mandarim

(1880)

LE MANDARIN

I

Première Partie

Traduction Jacky Lavauzelle

Quatrième Section

**************

Eu murmurei, com as faces abrasadas:

Je murmurai, les joues rougies :
— Têm.
– Oui
E a sua voz prosseguiu, paciente e suave:
Et sa voix continua, patiente et douce :
— Que me diz a cento e cinco, ou cento e seis mil contos?  
– Que dites-vous de cent cinq ou cent six millions ?
Bem sei, é uma bagatela…
Je sais, c’est une bagatelle …
Mas enfim, constituem um começo; são uma ligeira habilitação pára conquistar a felicidade.
Mais de toute façon, c’est un début ; un moyen pour atteindre le bonheur.
Agora pondere estes factos: o Mandarim, esse Mandarim do fundo da China, está decrépito e está gotoso: como homem, como funcionário do Celeste Império, é mais inútil em Pequim e na humanidade, que um seixo na boca de um cão esfomeado.
Considérez maintenant ces faits : le mandarin, ce mandarin du fond de la Chine, est décrépit et gras : en tant qu’homme, en tant qu’employé de l’empire Céleste, il est plus inutile à Pékin et à l’humanité, qu’un caillou dans la bouche d’un chien affamé.
Mas a transformação da Substância existe: garanto-lha eu, que sei o segredo das coisas…
Mais la transformation de la Substance existe : je vous assure que je connais le secret des choses …
Porque a terra é assim: recolhe aqui um homem apodrecido, e restitui-o além ao conjunto das formas como vegetal viçoso.
Parce que la terre est comme ça : elle recueille ici un homme pourri, et le transforme en un légume luxuriant. 
Bem pode ser que ele, inútil como mandarim no Império do Meio, vá ser útil noutra terra como rosa perfumada ou saboroso repolho.
Il se pourrait bien que ce mandarin, inutile comme mandarin dans l’Empire du Milieu, soit utile dans un autre pays comme la rose parfumée ou le chou savoureux.
Matar, meu filho, é quase sempre equilibrar as necessidades universais.
Tuer, mon fils, en somme, équilibre presque toujours les besoins universels.
É eliminar aqui a excrescência para ir além suprir a falta. 
Il s’agit d’éliminer ici l’excroissance pour là-bas combler un manque.
Penetre-se destas sólidas filosofias.
Pénétrez-vous de ces solides philosophies.
Uma pobre costureira de Londres anseia por ver florir, na sua trapeira, um vaso cheio de terra negra: uma flor consolaria aquela deserdada; mas na disposição dos seres, infelizmente, nesse momento, a Substância que lá devia ser rosa é aqui na Baixa homem de Estado…
Une pauvre couturière londonienne aspire à voir fleurir un vase plein de terre noire dans sa chambre : une fleur réconforterait celle qui est déshéritée ; mais dans la disposition des êtres, malheureusement, à ce moment-là, la Substance qui aurait dû être rose se trouve ici dans la Baixa un homme d’Etat …
Vem então o fadista de navalha aberta, e fende o estadista; o enxurro leva lhe os intestinos; enterram-no, com tipóias atrás; a matéria começa a desorganizar-se, mistura-se à vasta evolução dos átomos – e o supérfluo homem de governo vai alegrar, sob a forma de amor-perfeito, a água-furtada da loura costureira.
Puis vient le brigand avec une lame de rasoir, et frappe cet homme d’État ; sortent les intestins ; ils l’enterrent, avec toute une escorte derrière-lui ; la matière commence à se décomposer, se mêle à la vaste évolution des atomes – et l’homme de gouvernement superflu acclamera, sous forme de pensée, le triste appartement de la blonde couturière.
O assassino é um filantropo!
Le tueur est un philanthrope !
Deixe-me resumir, Teodoro: a morte desse velho Mandarim idiota traz-lhe à algibeira alguns milhares de contos.
Permettez-moi de résumer, Theodoro : la mort de ce stupide vieux mandarin vous apporte quelques millions.
Pode desde esse momento dar pontapés nos poderes públicos: medite na intensidade deste gozo!
A partir de ce moment, vous pouvez renvoyer au diable les pouvoirs publics : méditez sur l’intensité de cette jouissance !
– É desde logo citado nos jornais: reveja-se nesse máximo da glória humana!
– Vous êtes alors immédiatement cité dans les journaux : vous serez à l’apogée de la gloire humaine ! 
E agora note: é só agarrar a campainha, e fazer ti-li-tim.
Et maintenant remarquez : saisissez simplement la cloche et faites du bruit avec.
Eu não sou um bárbaro: compreendo a repugnância de um gentleman em assassinar um contemporâneo: o espirrar do sangue suja vergonhosamente os punhos, e é repulsivo o agonizar de um corpo humano.
Je ne suis pas un barbare : je comprends le dégoût d’un gentleman pour le meurtre d’un contemporain : les éclaboussures de sang souillent honteusement ses poings, et l’agonie d’un corps humain est répugnante. 
Mas aqui, nenhum desses espectáculos torpes…
Mais ici, aucun de ces spectacles sordides… 
É como quem chama um criado…
C’est comme quelqu’un qui appelle un serviteur …
E são cento e cinco ou cento e seis mil contos; não me lembro, mas tenho-o nos meus apontamentos…
Et il y a cent cinq ou cent six millions ; Je ne m’en souviens pas, mais je l’ai dans mes notes …
O Teodoro não duvida de mim.
Théodoro ne doutez pas de moi.
Sou um cavalheiro: – provei-o, quando, fazendo a guerra a um tirano na primeira insurreição da justiça, me vi precipitado de alturas que nem Vossa Senhoria concebe…
Je suis un gentleman : – Je l’ai prouvé, quand, faisant la guerre à un tyran lors de la première insurrection de la justice, je me suis retrouvé précipité des hauteurs que même Votre Seigneurie ne peut concevoir …
Um trambolhão considerável, meu caro senhor! Grandes desgostos!
Une chute considérable, mon cher monsieur ! Et de sérieux problèmes !
O que me consola é que o outro está também muito abalado: porque, meu Amigo, quando um Jeová tem apenas contra si um Satanás, tira-se bem de dificuldades mandando carregar mais uma legião de arcanjos; mas quando o inimigo é um homem, armado de uma pena de pato e de um caderno de papel branco – está perdido…
Ce qui me console, c’est que l’autre est aussi très ébranlé : parce que, mon ami, lorsqu’un Jéhovah n’a qu’un seul Satan contre lui, il s’en sort bien en envoyant contre lui une légion d’archanges ; mais quand l’ennemi est un homme, armé d’une plume d’oie et d’un cahier en papier blanc – il est perdu …
Enfim são seis mil contos.
Bref, c’est cent six millions.
Vamos, Teodoro, ai tem a campainha, seja um homem.
Allez, Teodoro, voici la clochette, soyez un homme !

 

*********************
Eça de Queirós

BRAGA Portugal – براغا-布拉加 – ブラガ – Брага

PORTUGAL

 

 Photos Jacky Lavauzelle

PORTUGAL





BRAGA
布拉加
ブラガ
Брага

براغا

 

**

Santuário do Bom Jesus do Monte
Sanctuaire du bon Jésus

santuario-do-bom-jesus-do-monte-artgitato-braga-10

**

 palacio-do-raio-braga-artgitato-2Palácio do Raio
LE PALAIS DU RAYON 
Casa do Mexicano
 MAISON DU MEXICAIN
palacio-do-raio-braga-artgitato-19

**

Igreja de São Victor
 Rua de São Domingos

igreja-de-sao-victor-braga-portugal-artgitato-41

**

Avenida da Libertade
Avenue de la Liberté
avenida-da-libertade-braga-avenue-de-la-liberte-artgitato-1

*****
Uma Campanha Alegre
Eça de Queirós

Outubro 1871.

Alguns jornais contaram este mês, com uma indignação ingénua, que na devota cidade de Braga alguns missionários vendiam aos fiéis cartas inéditas da Virgem

Maria. Estas cartas, segundo parece, eram dirigidas, umas a personagens dos tempos evangélicos – outras, mais particularmente, a à porta da igreja nas tardes de sermão, diante de tabuleiros de feira, enfeitados de toalhas bordadas e cheios de relíquias, dirigiam activamente o seu negócio pio. Quem entrava na igreja comprava com devoção. E no entretanto o missionário no púlpito trovejava. – Contar aqui o que ele declamava no seu vozeirão labrego não o podemos – para que estas páginas não venham a ser consideradas tão picantes como as das memórias de Faublas.

Uma Campanha Alegre por Eça de Queirós
Volume I, Capítulo XXXVII: Os missionários e o seu ramo de negócio.

*******

LE CONCILE DE BRAGA
de 572
DANS LA PREMIERE ENCYCLOPEDIE

Quoi qu’il en soit de l’identité de ces deux droits, l’usage des synodatiques est très-ancien dans l’Eglise.
Le concile de Braga, en 572, en parle comme d’un usage déjà ancien qui l’autorise.
Ce réglement fut confirmé au septieme concile de Tolede, en 646.

Boucher d’Argis
L’Encyclopédie, 1re édition
1751
Tome 15
p. 755